Frente às especulações sobre a venda da Amil, é importante analisar o perfil dos interessados e reunir apostas sobre os potenciais compradores. Assim, o leitor poderá entender melhor os cenários que se apresentam.
Com efeito, o DASA aparenta ser o grupo mais estruturado para assumir. É a segunda maior rede de hospitais privados do Brasil, que faturou quase R$ 4 bilhões no 2º trimestre de 2023[1].
Ainda mais, contratou o experiente executivo Licio Cintra, que construiu uma brilhante história no Grupo São Francisco, também com passagem pela Hapvida. Ele já assumiu como COO desde agosto de 2023 e será o CEO em fevereiro de 2024.
Vendo essa programação, em que um grupo hospitalar traz um especialista em planos de saúde para o comando, parece que a operação com a Amil já tem até data para acontecer!
Ainda mais, vale lembrar que o DASA é controlado pela família Bueno, sob a batuta do filho do Dr. Edson, Pedro Bueno. Então, estamos falando de uma retomada das operações fundadas pelo pai.
Até aqui, alguém menos avisado pode achar que a compra já está resolvida. Tudo se encaixa. E até poderia ser, se não estivesse no páreo um outro gigante da saúde suplementar, com sonhos e propósitos diferentes dos Bueno, mas igualmente grandes.
Seripiere Junior, bilionário fundador da Qualicorp, continua fortemente sonhando em desenvolver uma operação de saúde que agregue percepção de valor ao consumidor. No nosso último encontro, na sede da QSaúde, ele comentava: “ninguém acredita mais nos planos de saúde tradicionais, todo mundo acha que paga caro por serviços ruins”. E, referindo-se às disputas de mercado que tinha com o Dr. Edson Bueno, lamentava: “após a morte do Edson, o setor perdeu um dos seus maiores protagonistas. A gente sempre discutia, debatia, mas era exatamente isso que trazia encanto para a concorrência, gerando melhoria da assistência. Lutávamos para ser melhor”.
Após sair da Qualicorp, Júnior lançou a QSaúde, imaginando pudesse executar seu projeto do zero. Recentemente, a helthcare Alice adquiriu a carteira da Q e, ao que tudo indica, Seripiere está levinho e cheio de recursos para assumir um desafio do tamanho da Amil.
Existem ainda os fundos que manifestaram interesse, como o Bain Capital e o Coruja Capital, além do empresário Nelson Tanure.
Não duvido que o desenho de compra seja híbrido, com um player experiente e um fundo injetando capital. Afinal, mesmo com os ativos correspondentes aos hospitais do Grupo Amil, a operação deixa um rastro de prejuízo enorme, sendo que em 2022 foi de R$ 1,6 bilhão. E em 2023 não está diferente.
A UHG deve estar desesperada para encerrar sua participação aqui no país. Chegou, trombou, caiu e, mesmo após 10 anos, não faz ideia ainda do que deu errado. São mais outros investidores que sairão dizendo: o Brasil não é para amadores.
Bem, não devemos esquecer ainda que a aquisição, seja com quem for, precisa ter o crivo da ANS. Em 2021, a UHG não conseguiu provar a consistência do desenho ao regulador e a venda da carteira de planos individuais foi revogada. Espero que façam certinho dessa vez.
Por fim, já advirto aos potenciais compradores que, além de ANS e CADE, ainda terão de enfrentar a criteriosa lupa do PROCON nessa transação. Se impactar no atendimento ao paciente, como foi o caso da tentativa na APS, pode haver problemas.
Aos beneficiários, eu tranquilizo que a ANS não permitirá mudanças bruscas. Deve haver sim alterações na estrutura de atendimento e isso precisa acontecer de uma maneira sutil. Mas prevejo que qualquer coisa é melhor que estar num plano de saúde gerido por um grupo de investidores que não deseja estar aqui no Brasil.
Boa sorte a todos, especialmente aos consumidores da nova operação que está se desenhando.
[1]https://api.mziq.com/mzfilemanager/v2/d/462fb86b-9204-4615-b834-120f3d454792/795a7dbb-b3a6-1c38-dc60-d1d1df2083c7?origin=1
O texto é de Elano Figueiredo, advogado e consultor especialista em saúde, ex-diretor da ANS, colunista e debatedor do setor.
Excelente materia . Disse tudo, com clareza