Após analisar os números de várias cooperativas médicas, recebi algumas críticas interessantes, desafiando a entender melhor o cenário das unimeds.
E aí, me surgiu uma dúvida ainda mais intrigante. Quanto mais estudo, mais desafiador se torna encontrar soluções para o sistema cooperativo de saúde. Mas vamos chegar lá.
Por enquanto, vou dividir com vocês outra questão relevante apontada pelos números que são publicados pela ANS: o beneficiário de cooperativa gasta mais com saúde.
Segundo a Sala de Situação, o total de usuários dos serviços de medicina de grupo soma quase 20.5 milhões de pessoas, enquanto de cooperativas 18.8 milhões.
Olhando para as despesas, o Power BI da ANS indica que os consumidores de medicina de grupo gastaram R$ 68,8 bilhões, contra R$ 79,4 bilhões das cooperativas, no 1º trimestre de 2024.
Sem nenhum componente subjetivo, portanto, é possível concluir que um único consumidor de medicina de grupo gasta, em média, R$ 3.356,09 por trimestre, enquanto o beneficiário de cooperativa custa R$ 4.223,40.
Essa diferença não é pequena. Significa 25,84% a mais. Já imaginou, operar uma atividade em que seu concorrente gasta 25% a menos com os clientes?
Num conceito macro, não é possível determinar a causa exata do custo ser maior. Mas a sinistralidade indica que o consumidor de cooperativa usa mais os serviços assistenciais. Tal indicador está em 84%, contra 81% na medicina de grupo.
Ao que parece, a frequência de utilização não explica, em si, a diferença do custo percapita. Pode ser que as cooperativas paguem mais caro pelos mesmos serviços.
Pagar mais caro também não significa algo ruim. Pode ser ineficiência sim, mas também pode ser maior qualidade.
Desperdício e fraude podem fazer parte do problema. A auditoria (verificação do que é solicitado pelos médicos) pode ser frágil.
Bem, a justificativa deve passar por um pouco de cada situação sugerida aqui. Mas o que podemos concluir, de fato e sem dúvidas, é que a unimed tem um enorme desafio de gerir um cliente mais caro.
Quanto à receita das mensalidades, os consumidores de cooperativa pagam mais caro também. O sistema recebe quase R$ 10 bi a mais que as ltdas, por trimestre.
Será que, se a gestão fosse mais eficiente, o controle mais rigoroso, o beneficiário da unimed poderia pagar um preço melhor? Ou realmente o modelo de negócio é precificar mais caro e negar menos? Pode ser uma boa estratégia de satisfação do consumidor. Tem funcionado?
São muitas curiosidades ainda a entender na gestão de saúde das cooperativas, como, por exemplo, se o gerenciamento dos ativos financeiros vem sendo competente, porque esse ganho se mostrou importante nos resultados das operadoras.
Verificando aqui o ano de 2023 da unimed local, de Ribeirão Preto, o número é negativo em 141%:
Numa época em que o resultado financeiros vem salvando o operacional, isso tem que ser analisado com lupa.
Enfim, vamos acompanhando os números, fazendo perguntas e, quem sabe assim, encontrando as respostas. O importante é todos terem clareza sobre cenário desafiador.
O 1º trimestre de 2024 indica que vai melhorar.
Para mais detalhes, deixe sua dúvida ou observação e use o chat do Justiça e Saúde.
Elano Figueiredo, autor do artigo, é ex-diretor da ANS e especialista em sistemas de saúde. Assina esse conteúdo como Fundador do Justiça e Saúde.
Excelente questionamento: mais rigor na auditoria e "nega mais", ou, cobra mais caro de todos os clientes e "nega menos" ?? EIS A QUESTÃO !!
Vamos lá: em princípio, cobrar mais caro de todos seria mais justo, porque os mais fortes economicamente pagariam pelos mais fracos. Justiça social, espécie de "redistribuição da riqueza", como o imposto de renda. Mas... é viável ? Será tão fácil assim ?
O problema é que encarecendo as mensalidades, seguramente a arrecadação diminui, pois uma boa parte dos clientes (usuários) não poderão pagar. Exemplo: quem tem uma mensalidade individual de R$700,00 e passa para R$1.000,00, provavelmente não aguentará. Como diz o ditado: "é aí que a porca torce o rabo" ... E, havendo uma qu…