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elano53

O ESTREITAMENTO DO SETOR DE PLANOS DE SAÚDE

Dados da ANS, agência reguladora dos planos de saúde, revelam o nível de concentração do setor. Hoje, são cerca de 670 empresas com beneficiários ativos, sendo que 50% deles estão concentrados em apenas 18 operadoras.



Traduzindo melhor, menos de 3% dos planos de saúde concentram mais de 50% dos consumidores desse mercado.


Nos últimos 10 anos, o número de operadoras ativas caiu de 874 para 670 (sem contar odontologia). Significa um encolhimento de 23%.


Nesse cenário, a pergunta que nos desafia é: essa consolidação deve ser encarada como algo bom ou ruim?


Do ponto de vista econômico, as análises de concentração de mercado sugerem que existe um nível de equilíbrio para o tamanho de cada setor. Algo que não implique em redução de oferta, escassez de produtos, impacto na concorrência e no preço. Então, para responder à pergunta sobre bom ou ruim, teríamos que entender qual seria esse ponto de equilíbrio. Difícil.


Atentos ao mercado norte americano, temos hoje um alto índice de concentração de empresas de saúde. Isso elevou sobremaneira os preços dos seguros.

Colhemos de um relatório da Associação Médica Americana (ou AMA), que lá, em 72% do total das áreas metropolitanas, não há concorrência significativa entre as seguradoras de saúde.


Segundo o Mordor Intelligence, “uma maior concentração de fusões e aquisições de várias seguradoras de saúde suscita preocupações antitruste entre os consumidores. Isto é resultado do poder de monopólio da seguradora de saúde, devido à consolidação, o que lhes dá uma alavanca para aumentar e manter os prémios acima dos níveis da concorrência. A maioria das atividades de fusões e aquisições concentra-se em companhias de seguros que se associam a PBMs, para gerir os custos crescentes dos cuidados de saúde.”


Concentração à parte, a história está contando que nem com as fusões, o ganho em escala e o aumento do custo dos seguros de saúde na América do Norte têm sido suficientes para evitar a falência de grandes grupos assistenciais. A Steward Health Care, com receitas de U$ 9 bilhões, e a CarePoint Health Systems, um grupo com mais de 31 hospitais, são provas disso. Passam por profunda reestruturação.


Hoje, no Brasil, é certo que as combinações de negócios, principalmente entre operadoras e grupos hospitalares, são essenciais para evitar que estas entidades “sangrem” umas às outras; o prestador com seus excessos e o plano de saúde com as glosas e a imposição de preços diminutos.


Portanto, imagino que concentrar subsetores do ecossistema da saúde suplementar faça bastante sentido. O plano tendo seu próprio hospital e o hospital tendo seu próprio plano. DASA e Amil, Sulamérica e D’Or, são exemplos de união para a subsistência, entre operadora e rede hospitalar. O objetivo final termina sendo a verticalização, direta ou indireta.


Inclusive, a corrente predominante dos especialistas pontua que esse tipo de consolidação no setor também tem gerado a integração de produtos e estruturas hospitalares, oferta de soluções tecnológicas e de uma gama mais ampla de tipos de planos e serviços.


Já olhando para as fusões operadora x operadora, não é possível cravar sobre os efeitos positivos do setor marchar para uma quantidade inferior de empresas; lembrando que, hoje, 18 dão conta de 50% do mercado.


Na verdade, alguns se preocupam mais que se aliviam, com a concentração, temendo que isso possa alterar o padrão de competição do mercado, caso incremente as barreiras à entrada e o nível de preços. Outro fator que preocupa ainda mais essa corrente de pensadores é o consequente crescimento do poder econômico das operadoras maiores. Foi como pontuou Carlos Octávio Ocké-Reis, do IPEA.


Bem, não à toa o CADE vem aumentando o rigor na análise das operações. A expectativa é de que novas investidas passem por uma lupa, porque a possibilidade de sobreposição de área de atuação, com diminuição da concorrência, fica cada vez mais relevante.


E o que nos resta é acompanhar com cuidado, sempre alertas quanto às experiências de outros países; em que pese o Brasil ter um modelo muito peculiar de sistemas de saúde.

 


*Elano Figueiredo é ex-diretor da ANS, especialista em sistemas de saúde e fundador do Portal JS.

 

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