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elano53

Os avanços da telemedicina no País e os impactos no sistema de saúde e educação



A telemedicina pode resolver mais de 80% dos atendimentos médicos remotamente. Dessa forma, menos de 20% das demandas de saúde são direcionadas ao atendimento presencial. Cabe ressaltar que, com a telemedicina, ganhamos inúmeros médicos especialistas disponíveis para atender os pacientes via teleconsulta. As demandas trazidas a locais de pronto-atendimento são urgências relativas, e que poderiam ser bem solucionadas, via telemedicina, sem sobrecarregar os hospitais. Isso evitaria a superlotação tão comum no dia a dia das empresas públicas e privadas de saúde.


É preciso também apontar que boa parte dos brasileiros se desloca numa distância de 50 a 100 quilômetros em busca de atendimento. Essa demanda logística, no transporte de pacientes, traz custos para prefeituras e governos estaduais para os principais centros de saúde do País. E é por isso que a telemedicina ajuda a democratizar o acesso aos serviços e produtos de saúde na rotina assistencial. Primeiramente os sistemas de telessaúde ajudam a baratear os custos de redes públicas e privadas, ajudando também ao Poder Público para investir em uma ampla infraestrutura hospitalar, laboratório, entre outros formatos de atendimento.


No final de dezembro de 2022, a telemedicina e a telessaúde foram regulamentadas pela lei federal nº 14.510/2022, consolidando juridicamente uma prática que foi praticada por mais de duas décadas, e que se popularizou durante a pandemia do COVID-19, mas sem ter atingido seu auge até o momento. Segundo o Conselho Federal de Medicina, CFM, a telemedicina é “o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças, lesões e promoção de saúde”.


Mas, a despeito desse “mundo novo” de acesso a saúde, permanece no ar uma dúvida para quem nunca utilizou os serviços de telemedicina ou para as pessoas que fizeram somente uma consulta avulsa com um médico generalista: a telessaúde é capaz de atender todas as especialidades médicas ou de comportar as demandas que chegam a todo momento nos pronto-atendimentos? Uma das opções mais recomendadas pelos especialistas é: faça primeiro o atendimento via telemedicina e, caso o problema persista ou aparente ser mais grave, procure o atendimento presencial num pronto-socorro, algo que provavelmente o próprio médico a distância irá solicitar.


Dessa forma, olhando para o presente e futuro desse novo universo de atendimentos, se faz necessário observar e monitorar o quanto a telessaúde se distribui de forma democrática, à medida que atinge mais pessoas. Ainda que os processos tecnológicos estejam avançados, outro ponto que precisa ser aprofundado, é o quanto os médicos precisam se especializar em telemedicina, pois há um mercado sendo formado para atender às múltiplas demandas desse modelo de atendimento.


Pesquisa feita pela EBRAMED – Escola Brasileira de Medicina revelou que, a cada quatro médicos, três não sabem fazer atendimento de pacientes via telemedicina e/ou não se sentem preparados para isso. O estudo contou com mais de 800 médicos de grandes cidades brasileiras como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Santa Catarina, além de Maranhão e Rio Grande do Sul, escancarando um problema histórico no País: a falta de especialização médica em tecnologia.


Pesquisas realizadas pelo IBGE, mostram que 84,72% da população vivem concentradas em áreas urbanas. Embora o SUS tenha seu grau de eficiência, tal concentração proporciona uma sobrecarga no sistema de saúde público nas grandes cidades. Sem contar que no país existem, pelo menos, 115 povos isolados sem acesso direto à saúde. O grande desafio é desafogar o sistema e garantir que mais pessoas tenham atendimento geral, especializado e de qualidade.


Diante dessa demanda e possibilidade de utilizar o teleatendimento para suprir, devemos possuir os dispositivos tecnológicos essenciais para realização das videochamadas com qualidade, tendo computadores adequados e uma boa conexão com a internet. Adicionalmente, é bastante necessário contar com um médico ou profissional de saúde outro, com preparo e treinamento adequado, para fazer o teleatendimento. Por isto que, na maioria das vezes, não é necessário criar uma infraestrutura completa, bastando uma sala adequada para exercício profissional, com os aparatos necessário e um bom profissional de saúde.


Com base no exposto, é completamente possível criar uma estrutura de telemedicina em locais remotos. Primeiro, imagine uma aldeia indígena, ou uma pequena comunidade no interior do País, ou até mesmo um lugar muito distante de um local de saúde, mas dentro de uma grande capital. Agora, pense em criar uma pequena estrutura que tenha dois médicos generalistas: um para fazer o atendimento presencial e outro para realizar a telemedicina. Uma vez conectado, esse segundo médico pode entrar em contato com outros médicos especialistas para ajudar em casos mais complexos de saúde.


Na prática, a telemedicina democratiza o acesso à saúde e possibilita à população a disponibilidade de um leque de especialidades para tratamento. Nessa lógica da democratização, por meio do barateamento em infraestrutura, tende a ser maior o investimento em tecnologia — computadores, smartphones, plataformas ideais para exercer a telemedicina — e em capital humano — contratação de médicos generalistas e especialistas, com formação qualificada em telessaúde.


A incorporação da telemedicina pelo setor de saúde, a procura pelo recurso de atendimento pela população e a regulamentação oficial implicam na criação gradual de um mercado voltado total ou parcialmente à telemedicina. Para uma progressão rápida do nível gradual para o consolidado, dependeremos de quanto e quando os diversos planos de saúde, hospitais, laboratórios, entidades do terceiro setor, prefeituras e governos irão investir nesse modelo assistencial.


Embora a telemedicina seja medicina, segundo análise da lei que a regulamenta, existem peculiaridades aplicadas nas teleconsultas. Por exemplo, como um médico deve ser portar durante o atendimento, a forma de instruir o paciente caso este tenha alguma dificuldade com a tecnologia ou plataforma de uso, como fazer adequadamente um telediagnóstico, e como iniciar, manter e encerrar a consulta de maneira satisfatória.


Juntado a esse aprendizado, implica conhecer como registrar as informações de forma correta e adequada à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Ou seja, a telemedicina traz questões morais, éticas, de informática e digitalização ao profissional, adicionado do aprendizado e ensino prático das ferramentas que são utilizadas antes, durante e após o atendimento ao paciente.


Até mesmo lidar com os dispositivos de tecnologia é um desafio para milhares de médicos, pois muitos não foram ou não estão alfabetizados digitalmente, necessitando, assim, de uma curva de aprendizado e da educação digital para dominar os aparelhos e plataformas.


Avante, temos um caminho longo pela frente!


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