A operação de saúde continua no prejuízo, mas a ANS insiste em dizer que houve lucro.
Seguindo a linha do trimestre anterior, o Diretor de Normas e Habilitação das Operadoras da ANS utiliza o conceito de lucro líquido, embutindo rendimento das aplicações financeiras, para pautar a manchete sobre os resultados do setor.
Mas, quando aprofundamos a leitura e a análise, os números evidenciam que o segmento médico-hospitalar acumulou prejuízo operacional de 6,3 bilhões.
Será que isso é suficiente para o cidadão médio compreender bem o que está acontecendo? A meu ver, não.
É por isso que uso esse canal para explicar melhor. Vamos deixar bem claro: o resultado operacional é aquele obtido do comparativo entre as receitas (mensalidades) e o custo de operação (despesas assistenciais, comerciais, administrativas etc.). Está negativo em R$ 6,3 bilhões, no acumulado do ano de 2023. Um verdadeiro rombo.
Acessando o painel da ANS, percebemos que mesmo arrecadando quase R$ 258 bilhões dos bolsos dos beneficiários, a receita não é suficiente para cobrir os custos. A sinistralidade agregada continua beirando os 90%, que é um recorde na história dos planos de saúde. As fraudes nunca afetaram tanto o setor.
Todavia, como as operadoras são obrigadas a manter investimentos de garantia para hipóteses de insolvência, o retorno desse dinheiro no banco compensa o prejuízo da atividade de saúde em si.
No entanto, será que se as operadoras pudessem investir esse dinheiro em rede, em tecnologia, em melhores serviços, isso não seria melhor para o consumidor? É melhor o resultado no papel ou na prática?
Os tais ativos garantidores obrigatórios já salvaram algum prestador ou paciente que você conhece? Ah... deve haver alguns casos sim, mas eu não presenciei.
Ainda mais, vale também lembrar que o cálculo das mensalidades que pagaremos próximo ano tem base no resultado operacional. Ou seja, esse "lucro" anunciado pela ANS só gera uma falsa expectativa sobre baixos reajustes.
Enfim, na minha missão de combater a desinformação, de trazer a informação limpa e fomentar o debate, quero deixar bem claro que o problema na operação de planos de saúde continua desafiador. Não adianta pintar de alegria não; o odor continua.
O texto é de Elano Figueiredo, ex-diretor da ANS, jurista da saúde, especialista em sistema de saúde e health speaker.
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