Todos nas mãos da Oncoclínicas?

Prestadora de serviços oncológicos estabeleceu negócios de exclusividade com vários planos de saúde.

Essa semana, ecoou a parceria estratégica firmada entre Hapvida e Oncoclínicas. O assunto foi objeto de comunicado ao mercado e todos os veículos repercutiram fortemente.

Ao ler, tive uma sensação de déjà-vu. E me perguntei onde eu já tinha visto isso. Foi quando percebi que não foi apenas uma única outra vez que tinha assistido enlace da Onco com outra operadora; mas sim várias outras vezes.

Em 2013, veio a Unimed Rio, que chegou a representar 10% do faturamento da Oncoclínicas.

Depois disso, a Unimed Nacional estabeleceu parceria nos atendimentos oncológicos de São Paulo, Salvador e Brasília (todas são praças em que a Unimed local quebrou e a Nacional assumiu). Em 2023 ampliou os termos do contrato.

No mesmo ano de 2023, foi a vez da Unimed Recife. Em 2024, a Unimed Salto/Itu.

Mais adiante, Unimed Nacional e Oncoclínicas criaram uma joint venture, para que todas as 340 Unimeds pudessem aderir a esse tipo de negócio - de terceirização do atendimento de câncer.

A Golden Cross foi outra que também fechou contrato parecido, em 2022.

Já em 2025, A Amil “correu” de uma fusão com a Oncoclínicas, dado o alto endividamento desta.

De acordo com o BTG, a Oncoclínicas é hoje uma das empresas mais endividadas no setor de saúde. Ela acaba de reportar um prejuízo de R$ 759 milhões no 4º trimestre de 2024.

Nem precisa ser economista para entender os resultados. A companhia apostou em operadoras desequilibradas, que se sentiram atraídas por aportes oferecidos em troca de exclusividade no tratamento do câncer. Mas essas devedoras teriam, posteriormente, caixa para pagar em dia os serviços que lhes seriam prestados?

Se verificarmos Golden, Unimed Rio, Nacional e Recife, eu diria que há um grande risco de recebimento desse realizável. Por isso, analistas comentam que a ONCO3 precisava urgentemente qualificar melhor suas apostas de crédito. E veio a resposta, conforme nos indica o Money Times:

“Vale destacar que a empresa anunciou uma mudança de estratégia, com foco em pagadores de melhor qualidade, reduzindo a exposição àqueles com ciclo de pagamento mais longo.”

Com a nova parceria anunciada agora, parece que a companhia cumpriu sua promessa, porque ninguém duvida da capacidade de pagamento que ostenta a gigante Notredame.

Todavia, do histórico predominantemente de verticalização dessa operadora, não se vê outras parcerias de atendimento. Ao contrário, após fusão com a Hapvida, a expectativa é de fortalecimento cada vez mais dos serviços próprios.

Então, diante das condições financeiras da Oncoclínicas, da anterior recusa da Amil, essa parceria de agora poderia funcionar como “degustação” ou ponte para uma futura investida maior da Notredame sobre ela? Há amigos economistas que apostariam nisso e eu deixei bem claro que não faço a menor ideia; não tenho nenhum acesso a tais informações.

Mas preciso concordar que é estranho. Acompanhamos tantas alianças desse tipo, sempre com empresas endividadas e, de repente, surge uma comunhão com o maior e mais voraz player do setor. É como se um agiota resolvesse emprestar dinheiro a um grande banco.

Ousaria afirmar que a Notredame possui uma capacidade de gestão dos serviços oncológicos mais eficiente que a Oncoclínicas, além de uma base extraordinária de clientes. Por que precisaria dela?

E, olhando para outro lado, que é o ponto onde sempre quis chegar: em a Notredame se tornando tão estratégica para a Oncoclínicas, como já se tornou, isso afetaria a relação desta com as concorrentes daquela?

Essa pergunta eu fiz desde que a Unimed Recife topou vender sua oncologia, e estou apenas repetindo hoje, de uma forma mais abrange: se depois de abocanhar vários planos, a Oncoclínicas passar a sofrer forte influência de um concorrente de qualquer deles na sua gestão, como ficam as parcerias anteriores?

Penso ser um interessante exercício de futurologia, que os gestores da Unimed nunca fizeram, antes de aceitar o dinheiro da Oncoclínicas.